
Xadrez: A propriedade material.
Um dos elementos mais importantes dentro de toda a teoria do xadrez é a denominada propriedade material. De acordo com meu modo de pensar, conceituo esse dado "material" como a quantificação do potencial que seu exército possui para executar jogadas complexas, concretizar estratégias e efetivamente proteger o rei. Essa quantificação é feita através da soma dos valores de todas as peças que o jogador possui no tabuleiro em um determinado momento da partida.
O valor e a força das peças:
Às diferentes peças são creditados valores distintos, os quais representam a importância de uma peça para a concretização da finalidade do jogo, o xeque-mate. O peão é a peça básica, cujo valor não supera um ponto, sendo assim usado como a unidade de medida relativa à propriedade material, ou seja, mede-se a relevância das demais peças através da comparação das mesmas com o peão. O cavalo vale três peões e o bispo idem, a torre vale cinco peões, e a peça mais poderosa, a rainha, vale nove peões. Nesse contexto, estará em desvantagem o jogador que houver perdido mais pontos e não o que houver perdido mais peças.
Apesar de ser sempre apresentado como valor fixo, a valoração material de uma peça varia de acordo com a posição dela no tabuleiro. Porém, para facilitar a medição da vantagem material em torneios e sites de xadrez, usa-se sempre os valores acima apresentados, matematicamente representados por Peão = p; Rainha = 9p; Torre = 5p; Cavalo = 3p; e Bispo = 3p. Em um exemplo, se um jogador perder os dois cavalos, cinco peões e a rainha, ele terá perdido vinte pontos de material.
A importância do valor material das peças:
Usa-se o conhecimento sobre material principalmente para coordenar trocas em meio à uma partida, mas esse elemento também pode ser usado como critério para aferição da qualidade de uma jogada - uma jogada em que se ganha material será, na maior parte das vezes, uma jogada positiva. Ganhar material significa ficar com mais pontos do que o seu adversário. Em questões de trocas, o uso de material é simples - troca-se peças apenas por peças adversárias que possuam valor igual ou maior do que o valor de sua própria peça. Ou seja, não é válido trocar uma rainha por um cavalo, por exemplo.
A estratégia conhecida como simplificação consiste em fazer várias trocas válidas a partir do momento em que se consegue vantagem material, pois, quanto menor o número de peças no tabuleiro, maior a relevância da vantagem material.
O vídeo a seguir mostra uma análise de trocas materiais consideradas justas sob um aspecto de ganhos táticos e estratégicos. Eu não conheço a equipe que o produziu, ainda assim darei publicidade a ele nesta postagem.
A variação do valor material de uma peça:
A valoração material de uma peça é um elemento dinâmico, uma vez que depende da quantidade de movimentos válidos e bons que a peça poderá fazer. Ou seja, uma peça com pouca amplitude de movimentação terá seu valor prejudicado, ao passo que uma peça com várias possibilidades de jogadas poderá valer um pouco mais. A partir desse raciocínio, surge os conceitos de peças lixos(garbage) e peças boas - por exemplo, um cavalo que só pode se mover para uma casa será um cavalo lixo(cavalo lixo < 3p), enquanto que um cavalo central com várias casas como opções rezoáveis de movimento é chamado de um bom cavalo(cavalo bom = 3p). O jogadores precisam ter em mente essa variância da propriedade material, ou cometerão reiteradamente erros estupídos, tal qual o é trocar uma peça boa por uma peça lixo acredidanto estar fazendo uma troca justa.
Diz-se que uma peça se encontra cravada no caso de impossibilidade legal de movimentação em razão da ameaça de xeque. Como é proibido aos jogadores se colocarem deliberadamente em xeque, sempre que uma peça estiver bloqueando uma ameça de ataque ao rei, ela não poderá ser movida enquanto permanecer nessa condição. Uma peça cravada tem o seu valor reduzido consideravelmente, porém, como esse fator (estar cravado) pode ser facilmente alterado, a troca por uma peça cravada de valor inicial igual ou superior pode ser considera justa.
A dinamicidade do elemento material dentro de uma partida de xadrez gera várias consequências, e pode-se destacar as seguintes:
- Os dois bispos valem mais que os dois cavalos no fim do jogo. De fato, os mestres consideram que os dois bispos juntos em campo aberto valem mais meio peão (no fim do jogo, bispo + bispo = 6,5p). Porém quando consideradas isoladamente, essa peças não ganham nenhum adicional em seu valor material no fim do jogo. Enquanto os outros pares são redundantes (par de torres e par de cavalos), por uma peça ser capaz de fazer tudo aquilo que a outra pode, o par de bispos se completa por um só poder se mover pelas casas da cor que o outro não pode. Um bispo sozinho no fim do jogo, mesmo atacando várias casas, não oferece uma ameaça séria, pois ameaçará as casas de uma só cor. A amplitude de movimento do bispo é maior que a do cavalo e dois cavalos em conjunto no fim do jogo não possuem tanta relevância por formarem um par redundante, de tal forma que, há ganho material na troca de um cavalo por um bispo no fim do jogo, se o adversário ainda possuir ambos os bispos.
- No começo do jogo, o cavalo vale mais que o bispo. No começo do jogo, com vários peões no tabuleiro, por sua versatilidade de movimentação, o cavalo possui uma pequena vantagem material sobre o bispo (no começo do jogo, cavalo > bispo). Assim sendo, alguém que troca um bispo por um cavalo no começo do jogo, já está compensando a vantagem de ter os dois bispos em conjunto pela vantagem tática do cavalo no início do jogo que adversário possuía.
- Os peões aleijados valem menos. Os peões das torres, peão na coluna a e peão na coluna h, são tidos como peões mais fracos pois podem fazer capturas em apenas uma direção, ao invés de duas tal qual os peões normais. É tido como certo que esse peões valem em cerca de 15% menos que os peões comuns (peão aleijado = 0,75p). São os chamados peões aleijados. Diz-se que sempre será válido fazer captura com esses peões, promovendo-os a peões do cavalo, ainda que isso produza um peão duplicado ou não haja mais uma torre para dominar a coluna que ficará aberta.
- Os peões são mais valiosos no fim do jogo. No fim do jogo, um cavalo ou um bispo não valem os mesmos três peões que valem no começo, isso porque a coroação dos peões no fim do jogo é essencial para a consecução da vitória, e isso os deixa mais valiosos nessa fase do jogo. No fim do jogo, não é justa a perda de dois peões com o intuito de se fazer a tomada de um cavalo ou bispo não pareado (no fim do jogo, 2 peões > 1 cavalo ou 1 bispo não pareado).