
Como melhorar no xadrez: algumas dicas e guias de treino para jogadores iniciantes e intermediários
O xadrez é, sem sombra de dúvidas, um dos jogos mais fascinantes e divertidos no mundo. Trata-se de um jogo complexo, cujas possibilidades são praticamente infinitas, em que a imaginação pode correr solta. Mas, justamente por se tratar de um jogo complexo e repleto de possibilidades, muitos jogadores que acabaram de dominar os princípios e os conceitos básicos do xadrez, quando não possuem um treinador ou algum referencial do tipo, costumam ficar perdidos, sem saber como progredir no jogo. Nessas horas, é comum que muitos desistam ou percam o interesse pelo jogo.
Pensando em lidar com esse problema enfrentado por muitos jogadores iniciantes, pretendo expor aqui algumas dicas e guias de treino para jogadores de nível iniciante e intermediário que queiram progredir no xadrez. Não se trata de uma fórmula mágica - creio que isso não exista em nenhum esporte -, mas de um guia que pode e deve ser adaptado de acordo com a realidade e as condições de cada jogador.
Antes de falarmos mais precisamente sobre o que devemos treinar e nos dedicar para melhorar nosso jogo, é necessário relembrar as três fases em que o xadrez é dividido, são elas: abertura, meio-jogo e final. A abertura corresponde à fase inicial, em que cada jogador busca desenvolver suas peças o mais rápido possível. O meio-jogo corresponde à segunda fase e, em termos gerais, tem início quando todas as peças já estão devidamente desenvolvidas. É nessa fase que os planos e estratégias são elaborados e as manobras de ataque e de defesa ganham protagonismo. A terceira e última fase é o final, que se caracteriza pela presença de poucas peças no tabuleiro. É uma fase em que o conhecimento e o domínio de certas técnicas é muito importante, determinando, de maneira crucial, o resultado final da partida.
Compreender bem essas três fases do jogo é essencial para melhorar no xadrez. Vejamos agora de que maneira podemos treinar cada uma delas.
A abertura, por sua gama de possibilidades e variáveis, costuma causar grande confusão e embaraço na cabaça de muitos jogadores iniciantes. Realmente o número de aberturas possíveis e suas respectivas variantes e linhas é imenso. Para lidar com isso, é aconselhável escolher estudar e se dedicar àquelas que vão mais de acordo com seu estilo de jogo ou seus objetivos. Por exemplo, se você é um jogador que gosta de atacar e colocar problemas para seu adversário, é recomendável que escolha aberturas que ofereçam essas possibilidades. Uma boa pedida é a abertura Rui Lopez, caso esteja de brancas, ou a Siciliana, caso estiver de pretas e tiver que responder ao avanço do peão do rei das brancas. Agora, se você possui um estilo mais posicional e estratégico, o gambito da dama, caso esteja com as peças brancas, é uma boa opção; se estiver com as peças negras, caso seu adversário abra com o peão do rei, você pode simplesmente responder com o avanço do peão do rei das negras, convidando-o a jogar a abertura italiana ou a Rui Lopez.
Tendo escolhido as aberturas que mais têm a ver com seu estilo, uma boa maneira de estudá-las é a partir da análise de partidas de grandes jogadores que costumam utilizá-las com frequência em suas partidas. Caso você goste da Rui Lopez, vale muito a pena analisar e estudar as partidas jogadas por Garry kasparov, Bobby Fischer, Magnus Carlsen e Peter Svidler. Se você prefere mais o gambito da dama, uma boa recomendação são as partidas jogadas por Anatoly Karpov, Vladimir Kramnik, Shakhriyar Mamedyarov e Levon Aronian. Essas são algumas dicas de como estudar e analisar a abertura, vejamos agora de que maneira podemos abordar o meio-jogo.
O meio-jogo é o momento em que todas ou quase todas as peças de ambos jogadores já estão devidamente desenvolvidas. É nessa fase do jogo que as estratégias, as manobras posicionais visando o melhoramento das peças e os cálculos de variantes acontecem com maior intensidade. Pensando nisso, uma boa forma de se treinar o meio jogo é por meio da realização de exercícios de tática. Treinar tática permite ao jogador reconhecer mais facilmente debilidades e fraquezas posicionais e estratégicas a serem exploradas, algo muito importante durante o meio-jogo.
Outra forma de treinar o meio-jogo é a partir da análise de partidas de grandes jogadores que tenham um estilo parecido com o seu. Se você possui um estilo mais agressivo e dinâmico, é bastante válido analisar as partidas de jogadores como Alexander Alekhine, Mikhail Tal, Bobby Fischer e Garry Kasparov. Já se você possui um estilo mais estratégico e posicional, é melhor se dedicar à analise das partidas de jogadores como José Raúl Capablanca, Mikhail Botvinnik, Anatoly Karpov e Magnus Carlsen.
Terceira fase do jogo, os finais são caracterizados pela presença de poucas peças no tabuleiro e são uma parte fundamental do xadrez. Capablanca costumava dizer que se tratava da fase mais importante do jogo e recomendava que todos aqueles que quisessem evoluir no xadrez começassem estudando os finais. A recomendação do 3° campeão mundial de xadrez possui sólidos fundamentos. O final, apesar de poucas peças, requer um conhecimento técnico bastante vasto por parte do enxadrista, fazendo-se necessário a dedicação de grande quantidade de tempo no estudo dessa fase do jogo.
O final, portanto, é uma fase muito importante e que não deve ser negligenciado pelo jogador que quer elevar seu nível de jogo. Dessa forma, a leitura de livros que se dedicam exclusivamente ao estudo dessa fase do jogo é indispensável. Um ótimo livro para quem ainda não está tão bem familiarizado com a leitura enxadrística é o "Xadrez Vitorioso: Finais", do Grande Mestre Yasser Seirawan, cuja obra traduzida em português é de fácil acesso. Seirawan trata em seu livro sobre os principais tipos de finais de maneira bastante clara e didática, oferecendo ao leitor exemplos práticos e exercícios para serem resolvidos.
Realmente o xadrez não é um jogo fácil e para melhorar é preciso empenho e dedicação. Mas só isso não basta, também é preciso ter uma rotina de treino bem organizada e planejada. Esse pequeno artigo foi uma tentativa de lançar uma luz sobre a escuridão que assola muitos jogadores iniciantes que, sem ter um técnico ou alguém que os auxilie, buscam melhorar no xadrez.