
As Campeãs Mundiais Femininas: Nona Gaprindashvili
Chegamos a uma das minhas jogadoras favoritas, e, a partir deste ponto, vemos uma mudança no cenário das mulheres no esporte. Todas as campeãs anteriores — Vera Menchik, Rudenko, Bykova e Olga — tiveram que conciliar o xadrez com profissões comuns, sem nenhuma relação com o jogo. No entanto, isso não ocorreu com Nona Gaprindashvili, que pôde focar exclusivamente no xadrez, o que claramente elevou seu nível. Como veremos a seguir, ela se tornou a quinta campeã mundial.
Nona Gaprindashvili nasceu em 5 de março de 1941, em Zugdidi, Geórgia, então parte da URSS. Era a caçula de seis irmãos, em uma família onde o esporte sempre esteve presente. Aprendeu xadrez com seu pai aos cinco anos de idade e, aos 16, venceu o Campeonato Feminino da Geórgia.
Campeonato Mundial
Em 1961, ela venceu o Torneio de Candidatas e, aos 20 anos, já era a melhor jogadora do mundo. Com seu estilo agressivo de jogo, simplesmente não deu chances para Bykova, derrotando-a por 9 a 2 (7 vitórias e 4 empates).
Neste GIF, vemos a recepção calorosa que Nona teve na Geórgia após conquistar o título mundial. Não é à toa que o país se tornaria a maior potência do xadrez feminino – o apoio era simplesmente imenso.
Se Tornando Grande Mestre
Vencer o Mundial Feminino foi o a primeira grande conquista de Nona, mas ela almejava ainda mais, após seu título mundial, ela passou a receber convites para eventos fechados, o primeiro grande evento dela foi Hastings em 1964, onde empatou com Paul Keres jogador top 10 mundial na época. Sua presença se tornou constante em eventos com os melhores jogadores.

Em 1977, ela compartilhou o primeiro lugar no torneio de Lone Pine e este resultado com uma performance de 2615 lhe concedeu o título de Grande Mestre, a primeira mulher na história a obter a mais alta titulação do xadrez.
Perda do Título Mundial
Gaprindashvili defendeu seu título com sucesso três vezes contra a jogadora soviética Alla Kushnir. Em 1975, foi desafiada pela georgiana Nana Alexandria. A competição entre as duas foi amplamente acompanhada em seu país de origem, e Nona venceu por 8,5 a 3,5.
Em 1978, após 16 anos no topo, tudo indicava que Nona manteria a coroa por ainda mais tempo. No entanto, sua desafiante era Maia Chiburdanidze, uma jovem de apenas 17 anos. O que alguém dessa idade poderia fazer contra uma campeã tão experiente? Derrotá-la. Maia venceu por 8,5 a 6,5 e se tornaria uma das maiores jogadoras da história.
Domínio nas Olimpíadas
A URSS manteve seu domínio nas Olimpíadas Femininas e muito graças a Nona, entre 1963 e 1992 ela participou 12 vezes ganhando 11 medalhas de ouro e 1 prata por equipe e 9 de ouro individuais, 3 de prata e 1 bronze, com destaque para a edição de 1986 onde venceu todos os jogos que disputou e fez uma performance de 2877. E foi nas Olimpíadas que ela fez uma das partidas mais incríveis de sua carreira, vencendo Judit Polgar, a melhor jogadora da história.
Caso Netflix
Para enaltecer a personagem Beth Harmon na série "O Gambito da Rainha", foi dito que Nona Gaprindashvili nunca havia jogado contra homens, o que obviamente não é verdadeiro. Todas as Campeãs Mundiais jogaram contra homens em algum nível. Menchik já se destacou por isso, mas Gaprindashvili, de longe, é a que mais participou de torneios abertos até então. Nona entrou com um processo, que terminou com um acordo entre as partes.
Últimos Anos e Legado
É difícil resumir a carreira de Nona Gaprindashvili, pois ela ainda é uma jogadora ativa. Mesmo com mais de 80 anos, segue competindo e venceu, por exemplo, 8 vezes o Mundial Sênior.
Em 2013, foi incluída no Hall da Fama do Xadrez Mundial, e o seu legado é simplesmente imenso. A Geórgia se tornou a maior potência do xadrez feminino graças a ela; todas queriam seguir seu exemplo, e a próxima campeã mundial é justamente fruto desse legado.

Fontes e Recomendações
Entrevista com ela no Chessbase: https://en.chessbase.com/post/nona-gaprindashvili-interview-bled-2018
Alguns de seus melhores jogos: https://www.youtube.com/watch?v=OgYp8FshhQU&ab_channel=Chess.com