Andrejs Strebkovs perde o título de IM e está banido por 12 anos em eventos valendo rating FIDE

Em uma decisão da Comissão de Ética e Disciplina da FIDE (EDC) publicada na segunda-feira, o IM Andrejs Strebkovs, da Letônia, de 43 anos, perderá seu título de mestre internacional e está proibido de participar de eventos válidos para rating FIDE, punição que foi estendida de cinco para 12 anos. Ele foi considerado culpado de enviar material sexualmente explícito para mulheres e menores por mais de 10 anos.

Na decisão inicial de agosto de 2024, a Câmara de Primeira Instância da EDC considerou Strebkovs culpado e emitiu uma proibição de cinco anos de todos os eventos válidos para rating FIDE. No entanto, após ele apresentar um recurso, a FIDE respondeu com um apelação cruzada buscando uma decisão mais severa. A Câmara destacou que Strebkovs nunca negou ter enviado as cartas, embora isso não tenha sido um fato determinante para estabelecer sua culpa.

A lista de jogadores que tiveram seus títulos FIDE revogados é curta, e geralmente estava associada a trapaças em partidas ou manipulação de rating. A lista inclui o falecido IM Isa Kasimi (anteriormente Igors Rausis), IM Gaioz Nigalidze e Alexandru Crisan, e todos os três tinham o título de grande mestre. Strebkovs é o primeiro mestre internacional a ter seu título revogado.

A FIDE manteve as provas apresentadas na decisão inicial e citou a análise de DNA e descobertas de uma investigação policial. A Câmara observou que Strebkovs "não demonstrou nenhum remorso ou empatia pelas vítimas" e que as opiniões que ele expressou sobre assédio sexual e abuso eram "incompatíveis com os padrões da família FIDE."

O título de IM vem com a responsabilidade de ser um modelo a seguir, enfatizou a decisão. Além disso, o título lhe oferece oportunidades de treinamento, o que o colocaria em contato com crianças.

No caso em questão, o réu falhou gravemente em sua posição como modelo a seguir, sendo detentor do título de IM. Além disso, ele utiliza esse título para treinar e, assim, continuar em contato com uma comunidade de jovens jogadores entre os quais pode escolher suas vítimas ou investigar possíveis vítimas, e enquanto o réu estiver em contato com sua esfera de influência, ele será sempre uma ameaça para toda a comunidade de xadrez e especialmente para os grupos vulneráveis que ele tem como alvo.

... o réu falhou gravemente em sua posição como modelo a seguir, sendo detentor do título de IM.

—Câmara de Apelação da EDC

O presidente da FIDE, Arkady Dvorkovich, disse:

Esta decisão envia uma mensagem forte de que não há espaço no xadrez para esse tipo de comportamento inaceitável. A FIDE está comprometida em proteger os direitos e a dignidade de todos os jogadores, especialmente mulheres e menores, que devem se sentir seguros e respeitados em nossa comunidade.

A FIDE está comprometida em proteger os direitos e a dignidade de todos os jogadores.

—Arkady Dvorkovich, Presidente da FIDE

O Reclamante (Dvorkovich, neste caso) detalhou que Strebkovs enviou preservativos usados e páginas de revistas pornográficas para mulheres e garotas jovens, em sua maioria russas. Onze nomes foram listados no texto, embora pelo menos 15 tenham sido identificados pela revista de notícias russa independente Meduza, com sede na Letônia. Cartas foram enviadas para os endereços residenciais das jogadoras, seus clubes, universidades e locais de torneios.

Uma das destinatárias (identificada como "Sra. A") tinha 14 anos na época, e o envelope foi endereçado ao clube de xadrez em Moscou. Neste caso, o remetente foi rotulado como o ex-Campeão Mundial de Xadrez da FIDE, Alexander Khalifman. O remetente também se fez passar por outros jogadores de xadrez bem conhecidos.

A Câmara resumiu sua defesa da seguinte forma, na qual ele não negou ter enviado as cartas:

O réu optou por adotar uma estratégia de defesa consistindo em evitar qualquer discussão sobre os elementos essenciais de sua culpa, esperando semear dúvidas na mente do painel e, assim, impediu quaisquer circunstâncias atenuantes que poderiam tê-lo beneficiado.

Um dos principais argumentos apresentados por Strebkovs foi que "as cartas foram trocadas entre indivíduos privados e não estavam relacionadas a nenhuma atividade oficial da FIDE ou de torneios" e que a FIDE "não tem competência" para investigar assuntos que não impactam diretamente torneios de xadrez, partidas ou outros eventos.

Um segundo argumento foi que não havia evidências suficientes sobre os "efeitos psicológicos negativos" nas jogadoras afetadas e "como esses efeitos se manifestaram". Ele também argumentou que a intenção do remetente permanece desconhecida e que a intenção pode não ter sido causar sofrimento.

O último argumento foi que as normas sociais variam de acordo com as culturas. "Ele argumenta que enviar tais itens pelo correio, embora não convencional, não é mais surpreendente, dada a prevalência de spam muito vulgar em nossos celulares e smartphones."

Duas defesas "infundadas" foram, em primeiro lugar, que essas cartas teriam sido confiscadas por um "sistema de controle postal" na Letônia e, em segundo, que as cartas "faziam parte de uma campanha de conscientização contra a AIDS." A Câmara chamou a última de uma "hipótese totalmente frívola", e todos os argumentos foram rejeitados.

Seu "comportamento inadequado não constitui um crime segundo a lei da Letônia" e, portanto, além das sanções da FIDE, ele será multado administrativamente.

A decisão completa está disponível no site da Comissão de Ética e Disciplina (EDC).