Use o Par de Bispos Como Espadas Duplas
Príncipe Zuko; Avatar: O Último Mestre do Ar, episódio 27: "Zuko Sozinho"

Use o Par de Bispos Como Espadas Duplas

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Lembre-se que estas são espadas duplas. Duas metades de uma mesma arma. Não pense nelas como separadas, porque elas não são. São apenas duas partes diferentes de um mesmo inteiro.

- Príncipe Zuko; Avatar: O Último Mestre do Ar, episódio 27: "Zuko sozinho"

Olá pessoal!

Espero que esteja tudo bem com vocês! Porém, se as coisas estiverem difíceis, que elas melhorem logo =).

Vocês já ouviram falar do poder do par de bispos? É dito que, quando juntos, eles são como uma arma.

A afirmativa acima não se distancia da verdade. Convido a todos a uma pequena jornada, para observarmos juntos o motivo.

Primeiro, para nos ajudar a entender melhor a importância do par de bispos, vamos começar examinando a posição inicial do tabuleiro.

Nós temos 16 peças de cada lado, distribuídas em 64 casas. Cada lado têm 8 peões, 2 torres, 2 cavalos, 2 bispos, 1 dama e 1 rei.

Podemos perceber que, além do rei (aquele que não podemos permitir ser encurralado de jeito nenhum) e da dama (a peça mais poderosa no tabuleiro), todas outras peças têm, pelo menos, uma cópia.

Um peão têm exatamente 7 gêmeos idênticos, o cavalo e a torre têm um gêmeo idêntico cada um, enquanto o bispo possui um gêmeo, mas esse último, por sua vez, não é idêntico. De fato, ao contrário de seus colegas, estes dois últimos irmãos possuem funções diferentes!

Pois é, enqunanto um é responsável pelo controle das casas claras, o outro cuida das casas escuras. Um não pode substituir o outro, mas eles podem se ajudar. Eles são como espadas duplas!

Isso explica porque jogadores experientes prestam bastante atenção em preservar ambos os bispos mais do que os cavalos, pois, estes últimos, por terem a mesma função, às vezes acabam se atrapalhando (um ocupa a casa que outro gostaria de ir). Você não tem esse problema com os bispos.

https://www.renderhub.com/dmitriykotliar/zuko-dual-swords-from-avatar-tv-series

Agora, permitam-me contar a vocês a respeito das espadas duplas.

No episódio 27 da série animada Avatar, o Último Mestre do ar, Zuko, o orgulhoso príncipe da Nação do Fogo, estava em jornada pessoal tentando encontrar seu destino.

Príncipe Zuko na sua jornada. Arte por @etokitt

Cavalgando por aí, ele chegou a uma colônia de outra nação pertencente ao Reino da Terra, onde ele conheceu um menino chamado Lee e sua família, e descansou na casa deles. Vale ressaltar que o Lee imediatamente se tornou um fã de Zuko, já que este tinha uma aparência de guerreiro.

Zuko conhece a família de Lee. Avatar: O Último Mestre do Ar, episódio 27: "Zuko Sozinho"

O orgulhoso princípe era habilidoso na arte da espada, sempre carregando duas delas consigo. Quando ele estava dormindo, Lee pegou as espadas escondido (Zuko percebeu a manobra da criança, mas permitiu, fingindo não ter despertado).

Logo em seguida, quando, sob o luar, estava cortando algumas flores com as espadas, Lee tomou um susto, pois ouviu a a voz de Zuko subitamente ecoando: “você as está segurando errado”.

Zuko continuou: “Mantenha na sua mente que essas são espadas duplas. Duas metades de uma mesma arma. Não pense nelas como separadas, porque elas não são. São apenas duas partes diferentes de um mesmo inteiro.”

Então, com grande maestre no manejo das espadas, ele demonstra como usá-las adequadamente, cortando algumas flores de forma elegante.

Príncipe Zuko manejando suas espadas duplas. Arte por: https://www.deviantart.com/heidalim

Nós podemos aplicar a mesma linha de raciocínio de Zuko sobre as espadas duplas para o nosso par de bispos: “Eles são duas partes diferentes de um mesmo inteiro”.

Eu lembro que vi um vídeo do GM Rafael Leitão (@GMLeitao) em que ele menciona que uma boa regra pra guardar é sempre ter uma justificativa quando trocamos um bispo por um cavalo.

Não que o bispo seja mais forte que o cavalo, mas, de forma geral, o bispo coordena melhor com seu irmão gêmeo (bispo + bispo), do que o cavalo com o dele (cavalo + cavalo), ou com um bispo (cavalo + bispo).

A força do par de bispos é ainda mais aparente:

  • Quando o jogo tem linhas abertas para eles operarem, criando possibilidades de se conduzir ataques e dominação do tabuleiro; e
  • nos finais, especialmente quando temos peões em ambas as alas do tabuleiro e o centro não está fechado (os bispos tem um raio de ação grande, e podem ir mais rápido que os cavalos de uma parte do tabuleiro para outra).

Outra regra de ouro é a dita pelo especialista em finais GM Karsten Muller, de que “os bispos preferem o dinamismo na posição, enquanto os cavalos a preferem estática”. Uma boa maneira de implementar o dinamismo em uma posição é abrir linhas de jogo.

Nós podemos exemplificar a colocação acima quando comparamos a posição inicial dos dois diagramas seguintes:

Nesse primeiro diagrama, vemos que o Karpov, possuindo o par de bispos, tenta abrir linhas na posição com o avanço de peão 25.f4-f5, jogando nas casas claras, onde ele não tem uma oposição forte, já que as negras já não mais possuem um bispo que controle tais casas, e nenhum dos cavalos está defendendo a casa f5 no momento. Karpov jogou dinamicamente!

Para não nos desviarmos do assunto, não iremos nos aprofundar nesta magnífica partida. Contudo, eu recomendo que, assim que tiverem um tempo, vocês dêem uma conferida nela na íntegra. Dica: O GM Garry Kasparov faz uma bela análise dela no seu livro: Meus Grandes Predecessores, Volume 5. 

No segundo diagrama, nós transformamos a posição um pouco. Agora, ela tem uma natureza estática. Você pode observar que o cavalo negro tem um posto avançado em f5 a seu dispor (não pode ser expulso por peões caso chegue nessa casa), de onde este exercerá uma forte influência na ala do rei branca, além de colocar pressão no peão central d4. Enquanto isso, os bispos brancos não tem nenhuma perspectiva real de atuação efetiva conjunta.

O Grande Mestre Russo e ex-Campeão Mundial Anatoly Karpov. Foto: David Mercado / © REUTERS

Eu preparei algumas posições-testes. Fique à vontade para tentar achar as soluções e, então, comparar as suas conclusões com as análises e jogadas escolhidas nos jogos (as soluções estão logo em sequência aos exercícios).

Ex. 1) Esse é um jogo meu, disputado e meados de 2014. As Brancas abaram de capturar 18.Txd8+, como as Negras devem recapturar, e por que?

Resposta: A melhor maneira de recapturar é 18...Rxd8!

O natural 18...Txd8 é um erro estratégico, já que isso permite 19. Be4! e, para não perdermos nosso peão de h7, devemos permitir a troca do nosso par de bispos, deixando as Brancas colocarem um forte cavalo na casa e4.

Já 18...Bxd8, por sua vez, permite uma expansão na ala da dama para as brancas com 19.b4. Isso não é tão perigoso a primeira vista, mas não tem necessidade de deixarmos essa possibilidade se manifestar.

Você pode ver o jogo na íntegra abaixo:

Eu lembro que, após o jogo, estava andando pelo salão quando fui abordado pelo simpático MI Alexandru Sorin Segal, que elogiou o meu lance 18. Eu fiquei muito orgulhoso, afinal, o mestre era um jogador muito respeitado e era reconhecido por ser especialmente forte em finais. Infelizmente, após 5 meses desse encontro, esse lendário MI faleceu.

Ex. 2) As Negras estão no momento com uma qualidade a mais, porém, estão atrás no desenvolvimento e possuem alguns problemas de coordenação, já que tanto seu rei quanto a sua torre de h8 não estão em suas casas ideias.

Como as Brancas devem proceder?

Resposta: 17.e4! Dinamismo!

As Brancas estão à frente no desenvolvimento e são as que no momento possuem as “duas espadas” (o par de bispos)!. Nessa linha de raciocínio, elas deveriam abrir a posição para tirar vantagem disso. Elas agora ameaçam 18.Bf4, desenvolvendo o bispos de casas negras com ganho de tempo e, também, possuem a ideia de colocarem esse bispo na excelente casa d6.

Treino de visualização: Depois de 17.e4!, alguns lances foram feitos, o que eu sugiro que você tente visualizar sem mover as peças. Fazendo isso, você irá afiar suas habilidades de visualização e cálculo (17...dxe4 18.Bf4 Df5 19.g4 Dg6 20.Dd2 Be6).

Feitos tais lances, chegamos a próxima posição crítica.

Ex. 3) As Brancas jogaram muito agressivamente, contudo, tanta agressão foi justificada, já que a) elas lideram no desenvolvimento, b) o rei das Negras está mais exposto, e c) elas não podem permitir que as Negras consolidem sua posição.

Levando esses fatores em consideração, qual o melhor lance para as Brancas?

Resposta: 21.Bb8!

Um lance incrível! As Brancas usam táticas para ajudar no seu ataque. O bispo está imune em b8, já que 21...Txb8 permite 22.Dd6+, ganhando a torre com mate subsequente.

Vamos ver o jogo inteiro e apreciar sua conclusão.

Como mencionado previamente, o par de bispos é uma arma, e nós devemos empunhar armas com cuidado. Se você seguir as seguintes regras enquanto utiliza o par de bispos, dificilmente você irá errar: i) tenha sempre uma justificativa quando trocar um bispo por um cavalo; ii) bispos funcionam melhor quando utilizados de forma dinâmica; e, iii) sempre fique alerta para possibilidades de abrir a posição enquanto possuí o par de bispos.

Espero que vocês tenham gostado do conceito apresentado neste artigo e, que em seus jogos, vocês tentem ver os seu par de bispos como espadas duplas! Isso significa dizer que, apesar deles serem peças diferentes, eles são complementares e devem ser utilizados em conjunto.

Atenciosamente,

BKB99 (“me escute rugir”).