O Xadrez na Guerra Fria. EUA vs URSS nos Tabuleiros
Bobby Fischer, campeão mundial em 1972

O Xadrez na Guerra Fria. EUA vs URSS nos Tabuleiros

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O jornalista inglês Daniel Johnson é o autor do excelente livro Rei Branco e Rainha Vermelha, que explica a dimensão política que o xadrez ganhou durante a Guerra Fria.

Grandes Livros de Xadrez: Rei Branco e Rainha Vermelha | Rafael Leitão

O motivo é fácil de se compreender: os Estados Unidos queriam mostrar superioridade em relação à União Soviética, e vice-versa. Havia vários campos para se mostrar essa superioridade, por exemplo: na educação (o que resultou em reformas educacionais para melhorar o ensino), na tecnologia (o que resultou na corrida espacial), na indústria bélica (o que resultou na corrida armamentista) e nos esportes. Nesse último campo, ambos investiram pesadamente no treinamento de atletas para eventos como as olimpíadas.

No xadrez, a rivalidade também se intensificou. A URSS dominava esse cenário, com um número muito maior de clubes de xadrez, de federados e de jogadores de elite. Além disso, houve uma sequência de campeões mundiais soviéticos, começando com Mikhail Botvinnik, em 1948 (o campeão mundial anterior, Alekhine, nasceu na Rússia, mas como jogador de xadrez ele representava a França). Depois de Botvinnik, outros enxadristas soviéticos que detiveram o título foram Smyslov, Tal, Petrossian e Spassky, nessa ordem.

Tentando diminuir a desvantagem, nos Estados Unidos, o incentivo ao xadrez aumentou, embora o investimento nesse esporte tenha sido tímido em comparação a outras áreas disputadas com os soviéticos.

O sonho americano de ser o berço de um campeão mundial de xadrez parecia distante. Foi então que o jovem Robert James Fischer, ou simplesmente Bobby Fischer, ganhou destaque.

Bobby Fischer, 1957. | How to play chess, Chess, History of chess

Bobby Fischer

Ele aprendeu a jogar xadrez com seis anos, ensinado por sua irmã mais velha, e ficou obcecado. Aos 14 anos, tornou-se campeão americano, o mais novo até hoje. Aos 15, sua mãe descendente de poloneses, Regina Fischer, que simpatizava com o comunismo apesar da perseguição macarthista (a “caça às bruxas” comunista iniciada pelo senador Joseph McCarthy), escreveu para o primeiro-ministro da URSS Nikita Kruschev pedindo que o filho fosse convidado para um festival da juventude em Moscou. O convite foi enviado. Ao pisar em solo russo, o prodígio americano exigiu jogar contra o então campeão mundial Botvinnik, o que a organização do festival negou. Fischer então insultou os anfitriões, sendo expulso em seguida.

No entanto, Bobby não deixou de enfrentar os russos no tabuleiro pouco depois. O título de campeão americano lhe garantiu uma vaga em seu primeiro torneio Interzonal, em 1958. Esse torneio servia para selecionar participantes do Torneio de Candidatos, cujo vencedor ganhava o direito de jogar contra o campeão mundial reinante e, caso vencesse, se tornar o novo ocupante do trono.

No Interzonal de 1958, Fischer terminou em quinto lugar, o que o decepcionou, mas lhe rendeu o título de Grande Mestre — foi o mais jovem a conquistar a faixa-preta do xadrez na época — e uma vaga no Torneio de Candidatos, no qual foi eliminado. Em 1962, o mesmo se repetiu: Fischer teve uma boa colocação no Interzonal e avançou para o Torneio de Candidatos, sem conseguir vencer este último e poder desafiar o campeão mundial. Ele acusou os soviéticos de aproveitar o formato “todos-contra-todos” da competição para manipulá-la, combinando resultados de partidas para garantir que, ao final, sempre um “camarada” tivesse mais pontos do que os demais participantes e vencesse.

Por essa razão, Fischer decidiu boicotar as próximas disputas pelo título mundial, e só mudou de ideia na década seguinte (o que ele fez nesse meio tempo? Pouco se sabe). Em 1970, Pal Benko, o então campeão americano, cedeu sua vaga no Interzonal de Palma de Mallorca para Fischer, que conquistou o primeiro lugar e se classificou para o Torneio de Candidatos de 1971.

Nas quartas de final (essa edição do torneio já estava no formato mata-mata, em parte para evitar as trapaças insinuadas por Bobby), Fischer fez 6 a 0 contra Mark Taimanov; na semifinal, fez 6 a 0 contra Bent Larsen; e, na final, fez 6½ a 2½ contra Tigran Petrosian. Após esse rendimento devastador, ele estava apto a jogar contra o então campeão mundial, o russo Boris Spassky.

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Boris Spassky

Parte 2 em breve

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Billy